sexta-feira, 12 de abril de 2013

Animalidade.


Hoje fui à feira de livros da USP Leste, junto de um amigo. Fomos e voltamos de trem, e então aconteceu algo que me deu um choque de realidade imensa. Uma estação antes do ponto final do trem, na estação Tatuapé, as pessoas entraram no trem empurrando uma a outra e teve um homem e uma mulher que disputaram a unha por lugares para sentar, e ainda se olharam feio. Até ai normal, mas percebi que havia um aglomerado de pessoas na ultima porta, e percebi que havia um pequeno aviso na em cima de cada porta avisando que o desembarque deveria ser sempre na primeira porta do vagão, e ai pensei “porque essa frescura toda? Vou descer por aqui mesmo, na porta do meio”. Foi então que ao adentrar na estação Brás, que entendi o porquê do aviso. Além de estar lotada até a boca a estação, (o que é normal para o horário de pico) a “educação” das pessoas era um espanto, o trem nem tinha parado ainda, e um cara se jogou na porta fechada e se firmou ali, e não obstante ele fazer isso, mais três pessoas vieram com ele, todas se espremendo no pequeno degrau da porta do trem, que ainda estava em movimento. Nesse ponto eu já estava na fila de saída torcendo para aquilo terminar o mais rápido possível. Foi então que o trem parou, e as portas se abriram. E as pessoas entraram no vagão, mas com uma violência sem tamanho; era um dando cotovelada na cara de outro, um agarrando o outro pela camisa e jogando ele para trás, era mulher de cinquenta anos com uma bolsa enorme dando porrada com ela em cada um, era um empurra-empurra misturado com soco e cotoveladas tão violento e tenso que eu mesmo me assustei, e em poucos momentos eu estava sendo espremido e isso não era nem na porta que eu ia desembarcar, pois na primeira porta o segurança não deixava ninguém entrar até que todos saíssem e mesmo assim ainda fui empurrado para trás com violência e só sai dali dando um empurrão forte em quem estava na minha frente. O mais curioso de tudo isso, não era as pessoas agindo que nem trogloditas, se digladiando por um lugar para sentar, ou mesmo entrarem no trem, o que me deixou chocado e reflexivo foi TODOS, veja bem, TODOS, sem exceção, estarem SORRINDO. Isso mesmo, eles socavam um, davam cotoveladas em outros e mesmo aqueles que recebiam porrada, RIAM, ESTAVAM ALEGRES, e achavam isso a coisa mais NORMAL do mundo. Eu ao ver isso, tive um estalo reflexivo, que me deu asco, e pedi para meu amigo ficar em cima do piso superior olhando as pessoas embarcarem no trem, ao meu lado. Ficamos ali parados observando o embarque de outras pessoas, e vimos que o sorriso no rosto de todos que lutavam como animais numa jaula para entrar eram o mesmo. Teve até um homem que queria descer pela porta indicada de desembarque e não conseguiu, porque tomou uma cotovelada violenta de um cara que queria entrar e o empurrou para dentro, e outro que sofreu a mesma coisa, mas invés de cotovelada tomou soco na cara. As mulheres batiam tanto quantos os homens, e às vezes até mais e nisso eu penso. “Trabalhamos oito horas por dia de segunda a sexta, perdemos uma hora indo e outra hora voltando do serviço, pagamos os mais altos impostos e não temos retorno disso nem em transporte público, segurança ou educação, e o mais terrível de tudo isso, é que cinco dias por semanas, duas vezes por dia, agimos como trogloditas, agimos com a maior falta de educação do mundo e da maneira mais baixa e vil de conseguir as coisas, que é através do uso da violência, e em vez de sofrermos reclamando ou até mesmo se resignar com isso, invés disso, nós RIMOS, TEMOS SORRISOS ENORMES NA CARA, APRECIAMOS A OPRESSÃO QUE VIVEMOS, NÃO RECLAMAMOS DISSO, E GOSTAMOS DE LUTAR UM COM O OUTRO. Agimos como verdadeiras feras, e isso tudo é normal e até “prazeroso” para nós.” Depois dessa reflexão, eu pensei em todos os casos de escândalo do governo, pensei em todas as vezes que sofremos tanto, mas tanto todos os dias, para ganhar um salário ínfimo, pensei em tudo de ruim que se pode acontecer na sociedade, na violência que sofremos tanto através dos bandidos, como de alguns “agentes da lei”. Pensei em tudo isso, e percebi que não há esperança. As pessoas não se importam, pois continuaram votando em um bando de ladrões, que não fazem nada por elas, e não se revoltam, não ficam putas da vida, simplesmente aceitam e RIEM. Por isso que programas de reality show, novelas e futebol, sempre, vejam bem, SEMPRE, serão mais importantes do que o cotidiano social que vivemos. Após os vinte minutos de observação, sem mais delongas, voltei para casa.