segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Cores.

Um Sonho Dentro de um Sonho

Tome este beijo sobre a têmpora
e, partindo de ti agora,
muito a dizer nesta franca hora
Você não está errado, quem diria
que meus sonhos têm sido o dia;
Ainda se a esperança fosse um açoite
em um dia, ou numa noite,
numa visão, ou em ninguém
É isso então o que está aquém?
Tudo o que vejo, tudo o que suponho
É só um sonho dentro de um sonho.

As ondas quebram e fico ao meio
de uma praia atormentada
e eu seguro em minhas mãos
uns grãos de areia dourada -
Quão poucos! E como se vão
Pelos meus dedos para o nada,
enquanto eu choro, enquanto eu choro!
Ó Deus! Eu Vos imploro:
Não posso mantê-los em minha teia?
Ó Deus! Posso eu proteger
das duras ondas um grão de areia?
Será que tudo o que vejo e suponho
É só um sonho dentro de um sonho?

- EDGAR ALLAN POE.


Esse pequeno poema, simboliza por onde caminho agora. Mais uma vez a loucura bate a minha parte, e mais uma vez, a tento ignorar, mas aos pouco vou sendo consumido por essa luz doentia, que visa destruir minha mente. Os dias estão cada vez mais turvos, já não sou capaz de lembrar-me do que fiz, e a sensação de eu estar sendo enganado e vivendo constantemente um sonho, se torna mais forte.  Há alguns anos, tenho uma persistente sensação da percepção da realidade.  Às vezes eu olho algo, e é como eu pudesse enxergar mil algos dentro desse algo. Explicando melhor, é como se eu olhasse para uma arvore na rua, e visse que dentro dessa arvore, existe outra arvore, e dentro dessa outra arvore, existe mais outra arvore, e assim sucessivamente. Porém não acaba por aí, pois a cada vez que percebo isso a sensação de que as cores ganham mais brilho e mais enfoque se eleva num nível extraordinário. Por viver em uma cidade tão cinza, quando isso acontece, é como se fosse uma explosão de cores que me deixa desnorteado. E cada vez mais, eu percebo o mundo e o lugar onde vivo mais e mais vibrante e agressivo, mas as luzes que eu vejo, é como se fossem apenas para me cegar, me pondo várias imagens a frente para que eu não perceba algo que me escapa, e esse algo é o que me persegue, e é o que persigo. Quando a luz do sol poente ilumina as paredes das casas, sinto uma profunda melancolia, como se eu percebesse que tudo não passa de uma grande mentira, e que seu estendesse a mão, eu pudesse tocar um espelho invisível e frágil fazendo-o quebrar em mil pedaços. Lembro-me de uma vez, por volta dos meus doze anos de idade, que um dia, dentro do ônibus voltando da escola, vejo pela janela, um mundo mergulhado em um vermelho sangue gritante, tudo era iluminado por um sol, de um brilho vermelho intenso. Imagine a luz vermelha de um bordel, mais mil vezes mais brilhante e intensa. Óbvio que só eu vi isso, e ninguém ao meu lado pareceu perceber o que acontecia. Aliado a isso, ainda tenho sonhado sempre com uma mesma cidade de São Paulo, só que diferente, mais viva, maior, com mais arvores, mais pessoas, mais carros, muito mais cinza, pobre, e violenta, e todos os meus sonhos nela são cotidianos, como se eu dormisse e despertasse nos olhos de outra pessoa que vive dentro dela. São coisas como eu pegar um ônibus, ou ir num shopping e todo lugar que eu vou, percebo que passei por certas ruas que nunca mudaram de lugar, e converso com pessoas que nunca vi na vida, mas os rostos se repetem, embora eu nunca consiga descrever eles, porém tenho a sensação de que se repetem. Isso tem me feito dia a após dia, perder o senso de realidade, pois não consigo lembrar do que faço, pois como eu sonho sempre com a mesma coisa, numa realidade distorcidamente normal, quando quero me lembrar de algo, muitas vezes são os sonhos que vêem primeiro a minha mente. Isso é estranho... E para ilustrar mais ou menos o que quis dizer, usarei umas fotos de obras do Van Gogh, pois a explosão de cores dele, realmente me traz a mesma sensação daquilo que acontece comigo.



domingo, 9 de fevereiro de 2014

Vazio...

Tenho de vez em quando uma estranha impressão que morri, e cada vez mais isso me corrói, pois posso ser uma pessoa com as lembranças de outrem. E a estranha sensação de que tudo o que vejo não passa de miragem e que na verdade, sinto que o mundo se destruirá em mil pedaços como um espalho que se espatifa no chão, ainda me persegue. Sinto como se o fim de todas as coisas, estivesse perto.

Um medo inexplicável.

O que são esses lugares? Sinto calafrios só de pensar neles, e você sabe do que estou dizendo, alguma estatua numa rua, ou uma velha ponte, uma arvore, ou uma garagem, um buraco na parede, um corredor, ou uma porta fechada, sempre, em algum ponto de nossas vidas, inexplicavelmente tememos algum lugar, obscuro ou claro, movimentado ou vazio, existe dentro de nós, uma aversão a certos lugares. Nossos pelos ficam eriçados, nossa respiração fica mais rápida e uma inquietação invade nossa mente, sem motivo algum. Pergunto-me o por que temos isso? Por que temos a maldita sensação de que algo inexorável, observa-nos escondidos atrás das luzes? Corrói-me a alma, saber que o desconhecido me atormenta, e que nunca terei coragem de confronta-lo e que jamais poderei fugir dele, pois em algum momento de minha vida, esse medo voltará. Um genuíno medo a lugares, sem lendas, sem superstições, mas que nos causam o verdadeiro terror. Existe alguma explicação lógica para tal?